sexta-feira, 7 de agosto de 2009

A dúvida da certeza (Michel Pedroso)

A fantasia da vida
é a realidade da morte
a alma da pedra
a incerteza da sorte
o arrependimento do torpe
a coragem do fraco
a inocência que mata
o erro mais exato
o tempo que acaba
a companhia da solidão
o carinho que maltrata
é ver na escuridão
a velha arte do agora
sentir-se preso lá fora
a dúvida da certeza
e a certeza da desilusão

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Gosto de tempo ruim (Michel Pedroso)

Gosto de tempo ruim, ele justificaria no tribunal de minha consciência, caso preciso fosse, todo o tempo que passo enclausurado no escritório. Mas sinto falta das rajadas de luz no túnel verde rumo ao litoral. Gosto do tempo ruim por que sinto falta do tempo bom. Do sol que não posso sentir, do cheiro da terra, do fruto que não posso colher. Vejo o relógio do tempo refletido no espelho onde os minutos se perdem em forma de células mortas. Nesse mundo, onde vivemos nos referindo ao clima como tempo, não temos tempo para viver o clima.

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Teoria secreta (Michel Pedroso)

Eu queria arrancar de dentro de mim teorias otimistas plenas de que tudo depende da nossa força de vontade, mas posso afirmar com certeza que, se fosse assim, muitas pessoas que eu conheço e, principalmente eu, estaría milionário. Para começar, cheques não vêm pelo correio.
Disseram em um livro, campeão de vendas, e um filme que eu loquei pensando que fosse algo bem diferente, que o grande “Segredo” da humanidade está em sermos capazes de definir o rumo de nossas vidas. Só esqueceram de mencionar as limitações físicas e estéticas reais das pessoas para certos propósitos, intelectuais para outros e a de oportunidades mesmo para outros. Uma garota de 1,55m de altura não irá se tornar uma Gisele Bundchen (nem a pau). Só falta dizer que aquela menina estava procurando aquela bala perdida. A realidade não é um filme norte-americano ao qual se resolve tudo através da computação gráfica.
Eles deviam ter escrito na parte do “como atrair dinheiro”, escreva um livro de alto ajuda dizendo tudo o que as pessoas desesperadas querem ouvir, coloque uma enorme publicidade em cima com um toque misterioso utilizando a fórmula mágica de Paulo Coelho para vender muito, e “foda-se” todas as pessoas que acreditaram nisso e se frustraram. Basta dizer que elas não se esforçaram o suficiente. Mas com certeza quem escreveu o livro não se frustrou, pelo menos financeiramente.
A vida das pessoas é como se fossem esferas derramadas em uma superfície irregular, onde, algumas irão rolar com facilidade e outras ficarão presas em buracos ou declives que as direcionarão para trás.
Ao contrário do que possa parecer, não estou afirmando que as pessoas não terão sucesso, apenas estou dizendo que essa briga é muito mais difícil do que querem fazer parecer, que a frustração será sinônimo de baixas nessa guerra, mas faça o melhor de si que talvez seja suficiente. E se não for, descubra para o que você foi feito e faça o melhor de si novamente. Você não terá mais dúvida e estará realizado naquilo que estiver fazendo.

Não há mestres... (Michel Pedroso)

Perdoem-me se nos textos que escrevo não há mestres nem discípulos, se a realidade despiu minhas fantasias. Perdoem-me se nem sempre escreverei palavras agradáveis. Perdoem-me se nem sempre farei força para ser querido. Os “mestres” que conheço procuram vagas para estacionar, xingam os flanelinhas e outros fazem greves por melhores salários e mal conseguem resolver os seus próprios problemas.
Escrevo sobre pessoas reais. Sobre a realidade capaz de transformar executivos em bêbados jogados nas calçadas. Na simplicidade de uma criança que se queima e aprende que não deve mais encostar no fogo. Me tornei um observador.
Em um pequeno momento de ócio em meio a um dia conturbado, me dei conta da fita do Nosso Senhor do Bom Fim no meu pulso que coloquei numa noite em um bar temático na Cidade Baixa em Porto Alegre com alguns amigos. Mesmo sendo totalmente cético realizei o ritual, fiz mentalmente o pedido e amarrei a fitinha. Mais de um ano se passou desde então. Mas porque eu ainda estava com ela, se eu não acreditava? Me dei conta do porque que ela funcionava com tanta gente. Pois ela nos ajuda a lembrar constantemente daquilo que queremos, nos direcionando inconciêntemente a fazer ações que nos conduzirão a realização desse sonho.

Vinte e dois minutos (Michel Pedroso)

Foram vinte e dois minutos, entre o display do microondas na cozinha de casa até a tela do computador no escritório. Em vinte e dois minutos eu me dei conta do tempo. Esses vinte e dois minutos resumiram tudo o que eu não percebo que vivo. Nesses vinte e dois minutos de completa automação dos meus atos eu não sinto nada, sou apenas quadjuvante da vida de quem percebe a sua vida naquele instante. Fauna urbana insana de um imenso jogo cênico não reciclável.