segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Por que o desprazer?

Por que tantos mentem se nos tornamos tão nobres quando falamos sempre a verdade? Por que tantos matam se gratificante mesmo é salvar vidas? Por que tantos roubam, se o que nos dá orgulho e verdadeiramente prazer é o que conseguimos conquistar com nossa própria competência? Por que fumar se todos sabem que quem fuma fede e acaba afastando pessoas entre as quais gostaríamos que estivessem mais próximas? Por que se preocupar com a cor se o que importa é o motor e essa preocupação deixa transparecer sua profunda ignorância? Por que tantos optam pelo desprazer se ter prazer é muito melhor?

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Bem lá no fundo... (Michel Pedroso)

Na maioria das vezes conseguimos resistir às mazelas do cotidiano. Avisos de inclusão nos serviços de proteção ao crédito, o computador que dá “pau” com todo o seu trabalho dentro, no estúpido sistema judiciário que prende pais de família desempregados quando o que eles mais querem é trabalhar e ganhar o suficiente, no seu imóvel desvalorizado por uma má administração condominial, quando o cachorro do visinho não para de latir e tira a sua concentração até mesmo para escrever esse texto, quando você se dá conta que terá que ligar para sua operadora de telefonia ou TV a cabo, quando começa a chover e tu se dá conta que vai faltar luz outra vez, atrapalham você quando quer se concentrar, quando começa a chover bem na hora que você tem que sair e o sol abre quando você chega, quando você espera um telefonema importante e quando você atende é um telemarketing, estar sem grana nas festas de final de ano, acontecer tudo isso com uma mesma pessoa... Não se preocupe, é geralmente lá no fundo do poço que encontramos o caminho e a força para dar a volta por cima.

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Contraste (Michel Pedroso)

Eu poderia dizer que Deus não existe e que a justiça divina é apenas a aplicação da terceira lei de Newton de que toda ação gera uma reação, então de tanto ferrar alguém uma hora você vai se ferrar também. Também poderia dizer que Deus é a única explicação para a existência de tudo isso. Na verdade eu não sei.

Enquanto físicos tentam reproduzir o buraco negro buscando gerar o vácuo, estúpidos se matam por causa de futebol, talvez também pelo vácuo existente em suas cabeças. Talvez o vácuo seja algo que temos que evitar. Talvez esses agressores tenham sido espancados pelos seus pais na sua infância. Na verdade eu não sei.

Eu poderia dizer também que a reencarnação não existe, que isso é uma bobagem, mas algumas crianças nascem rainhas e são notícia por acontecimentos banais em suas vidas fúteis, enquanto outras, morrem de fome, são violentadas, assassinadas e os jornais nem noticiam mais pois são consideradas vidas banais. Elas devem estar pagando por algo que fizeram em outras vidas, afinal nem tiveram tempo de pecar nessa. Na verdade eu não sei.

A verdade é que alguns poucos afirmam explicar tudo, esfregam seus diplomas, exigindo serem chamados de doutores e se borram de medo de sair de suas casas por causa dos assaltos e seqüestros gerados exatamente por esse contraste reforçado pela vaidade. Eu escutei uma música antiga de protesto e hoje ela não me dizia mais nada, pois estava fora do contexto. Não quero acreditar que o preço da liberdade seja a miséria da maioria. Eu me dei conta que existem profundas mensagens de protesto na velocidade cinco do Créu dizendo: Créu, créu, créu, socorro eu preciso de cultura! A cultura tem que ser para todos! O acesso a faculdade tem que ser para todos! Vida digna tem que ser para todos!!! Créu, créu! E não cada um no seu quadrado!

Esse texto foi feito em homenagem ao anônimo que catava lixo em frente ao residencial Jardim Europa.

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Um lugar... (Michel Pedroso)



Muitas vezes ficamos procurando um lugar perfeito, maravilhoso, sendo que esse lugar pode estar na esquina da nossa rua ou um pouco mais além. Perfeito e maravilhoso tem que estar nosso estado de espírito. Essa é uma das esquinas de uma rua ao lado da minha. Nesse dia, eu consegui percebê-la.


sexta-feira, 7 de agosto de 2009

A dúvida da certeza (Michel Pedroso)

A fantasia da vida
é a realidade da morte
a alma da pedra
a incerteza da sorte
o arrependimento do torpe
a coragem do fraco
a inocência que mata
o erro mais exato
o tempo que acaba
a companhia da solidão
o carinho que maltrata
é ver na escuridão
a velha arte do agora
sentir-se preso lá fora
a dúvida da certeza
e a certeza da desilusão

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Gosto de tempo ruim (Michel Pedroso)

Gosto de tempo ruim, ele justificaria no tribunal de minha consciência, caso preciso fosse, todo o tempo que passo enclausurado no escritório. Mas sinto falta das rajadas de luz no túnel verde rumo ao litoral. Gosto do tempo ruim por que sinto falta do tempo bom. Do sol que não posso sentir, do cheiro da terra, do fruto que não posso colher. Vejo o relógio do tempo refletido no espelho onde os minutos se perdem em forma de células mortas. Nesse mundo, onde vivemos nos referindo ao clima como tempo, não temos tempo para viver o clima.

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Teoria secreta (Michel Pedroso)

Eu queria arrancar de dentro de mim teorias otimistas plenas de que tudo depende da nossa força de vontade, mas posso afirmar com certeza que, se fosse assim, muitas pessoas que eu conheço e, principalmente eu, estaría milionário. Para começar, cheques não vêm pelo correio.
Disseram em um livro, campeão de vendas, e um filme que eu loquei pensando que fosse algo bem diferente, que o grande “Segredo” da humanidade está em sermos capazes de definir o rumo de nossas vidas. Só esqueceram de mencionar as limitações físicas e estéticas reais das pessoas para certos propósitos, intelectuais para outros e a de oportunidades mesmo para outros. Uma garota de 1,55m de altura não irá se tornar uma Gisele Bundchen (nem a pau). Só falta dizer que aquela menina estava procurando aquela bala perdida. A realidade não é um filme norte-americano ao qual se resolve tudo através da computação gráfica.
Eles deviam ter escrito na parte do “como atrair dinheiro”, escreva um livro de alto ajuda dizendo tudo o que as pessoas desesperadas querem ouvir, coloque uma enorme publicidade em cima com um toque misterioso utilizando a fórmula mágica de Paulo Coelho para vender muito, e “foda-se” todas as pessoas que acreditaram nisso e se frustraram. Basta dizer que elas não se esforçaram o suficiente. Mas com certeza quem escreveu o livro não se frustrou, pelo menos financeiramente.
A vida das pessoas é como se fossem esferas derramadas em uma superfície irregular, onde, algumas irão rolar com facilidade e outras ficarão presas em buracos ou declives que as direcionarão para trás.
Ao contrário do que possa parecer, não estou afirmando que as pessoas não terão sucesso, apenas estou dizendo que essa briga é muito mais difícil do que querem fazer parecer, que a frustração será sinônimo de baixas nessa guerra, mas faça o melhor de si que talvez seja suficiente. E se não for, descubra para o que você foi feito e faça o melhor de si novamente. Você não terá mais dúvida e estará realizado naquilo que estiver fazendo.

Não há mestres... (Michel Pedroso)

Perdoem-me se nos textos que escrevo não há mestres nem discípulos, se a realidade despiu minhas fantasias. Perdoem-me se nem sempre escreverei palavras agradáveis. Perdoem-me se nem sempre farei força para ser querido. Os “mestres” que conheço procuram vagas para estacionar, xingam os flanelinhas e outros fazem greves por melhores salários e mal conseguem resolver os seus próprios problemas.
Escrevo sobre pessoas reais. Sobre a realidade capaz de transformar executivos em bêbados jogados nas calçadas. Na simplicidade de uma criança que se queima e aprende que não deve mais encostar no fogo. Me tornei um observador.
Em um pequeno momento de ócio em meio a um dia conturbado, me dei conta da fita do Nosso Senhor do Bom Fim no meu pulso que coloquei numa noite em um bar temático na Cidade Baixa em Porto Alegre com alguns amigos. Mesmo sendo totalmente cético realizei o ritual, fiz mentalmente o pedido e amarrei a fitinha. Mais de um ano se passou desde então. Mas porque eu ainda estava com ela, se eu não acreditava? Me dei conta do porque que ela funcionava com tanta gente. Pois ela nos ajuda a lembrar constantemente daquilo que queremos, nos direcionando inconciêntemente a fazer ações que nos conduzirão a realização desse sonho.

Vinte e dois minutos (Michel Pedroso)

Foram vinte e dois minutos, entre o display do microondas na cozinha de casa até a tela do computador no escritório. Em vinte e dois minutos eu me dei conta do tempo. Esses vinte e dois minutos resumiram tudo o que eu não percebo que vivo. Nesses vinte e dois minutos de completa automação dos meus atos eu não sinto nada, sou apenas quadjuvante da vida de quem percebe a sua vida naquele instante. Fauna urbana insana de um imenso jogo cênico não reciclável.